Caneca Dengo

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A estampa

As palavras vieram ao mundo com uma vontade danada de explicar. Elas nasceram para isso. Antes delas, todos os sentimentos e ímpetos eram coisas indescritíveis. Faltava algum negócio que desse conta de traduzir os caminhos dos nossos pensamentos. 

Por isso, ainda bem, uma grande revolução foi desencadeada quando a fala se espalhou pelo vento. Ainda não é um trabalho perfeito. Tem muita coisa que não tem jeito por ser muito maior do que a gente, mas aumenta a chance de uma palavra certeira vir ao ar se tivermos linguagens diferentes.

Assim é o mundo. Em cada canto se canta uma especialidade, cada lugar tem um assunto do qual sabe tratar com louvor. No caso do Brasil, nós somos especialistas em amor.

Quando Gustav Klimt pintou a mais famosa das colchas de retalhos, ele escolheu uma só palavra para nomear o quadro, mas não sei se ali está o termo mais certeiro. A colcha não é uniforme. Se falasse o português brasileiro, Klimt teria as palavras certas para perceber que, na costura daquele momento, tem um beijo, um cheiro, um abraço, um aconchego, ou, em uma palavra só, um dengo. 

Essa caneca tá brincando, mas é sério. Poucas línguas como a nossa fizeram tanta questão de tentar decifrar esse grande mistério. Klimt foi genial na obra e no título, mas, cá entre nós, faltou só esse pézinho no Brasil pra ficar ainda mais bonito.

Arte criada por Chico Rei Estúdio
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